Assembleia Legislativa do Estado do Acre

Aleac realiza audiência pública para debater “Interligação Cruzeiro do Sul/Pucallpa”

 

 

Encerrando sua agenda no Juruá, a Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) realizou neste sábado (2), uma audiência pública para debater sobre a “Interligação Cruzeiro do Sul/Pucallpa”. 

O encontro que foi proposto pelo deputado estadual Roberto Duarte (MDB) aconteceu no Teatro dos Náuas, em Cruzeiro do Sul, e contou com a participação do vice-governador Major Rocha, da deputada federal Jéssica Sales (MDB), do promotor de Justiça, Iverson Bueno, do prefeito de Cruzeiro do Sul, Zequinha Lima, de líderes ambientais, indígenas, professores, vereadores e empresários da região. 

Em sua fala, o presidente da Aleac, deputado Nicolau Júnior (Progressistas) destacou a importância da audiência pública. “Mais um dia de atividade em Cruzeiro do Sul, mais um dia de debate. Ontem, discutimos sobre a economia e agricultura do Juruá e, hoje, vamos falar sobre a Interligação de Cruzeiro do Sul/Pucallpa. Estamos aqui, para ouvi-los”, disse.

O deputado agradeceu, ainda, a todas as pessoas que prestigiaram a sessão solene e as audiências públicas que foram realizadas pela Aleac no município.

“Agradeço a toda população cruzeirense pela acolhida nesses três dias, agenda que o parlamento acreano cumpriu na cidade. A todos os envolvidos, ao prefeito Zequinha Lima, vereadores, gestores, empresários, a imprensa local e do estado, o meu muito obrigado”, agradeceu.

O deputado Roberto Duarte (MDB), autor do requerimento que deu origem à audiência, ressaltou a importância da construção da estrada para Pucallpa como alternativa para gerar emprego e renda.

Segundo ele, além de viabilizar mais uma ligação terrestre entre os dois países, a estrada garante novas relações comerciais e fomenta o desenvolvimento regional, gerando mais oportunidades de negócios, emprego e renda na região.

“É de suma importância ter uma exploração racional, ou seja, é melhor tramitarem leis, ter autorização do ICMBIO, como está sendo, do que começarem a explorar a área sem um bom planejamento de execução, que cumularia em danos. Precisamos entender que é de suma importância uma proposta econômica viável, que incentive nossa economia”, destacou Duarte.

O Vice-governador do Estado, Major Rocha (PSDB), saiu em defesa da construção da estrada. Ele frisou que desde o início do seu governo se buscou entendimento com as autoridades de Ucayali para fomentar acordos comerciais.

 “O Acre poderá fornecer muitos produtos de interesse dos peruanos. A nossa visão é que a rodovia que nos importa é por Pucallpa, porque fará a ligação entre duas regiões isoladas nas Amazônias brasileira e peruana. Essa integração terá ganhos para os dois lados”, disse.

Major Rocha falou, ainda, da desinformação que existe acerca do tema. “Ao longo desse processo houve muita desinformação sobre o assunto. Sendo que agora que o projeto do Executivo está sendo licitado. A estrada que está sendo planejada passa fora das áreas de influência das reservas indígenas. Mas nós vamos  sim, discutir o assunto com os moradores da Serra do Divisor, nós vamos sim, ouvir o povo da floresta. Esse momento de audiência pública vai chegar”, afirmou.

Rocha disse que quem critica o projeto não mora no Acre e tem uma “pseudo preocupação”.

“Vejo, hoje, essa pseudo preocupação de muita gente que não mora na nossa região. Eu não vejo dessas pessoas nenhum movimento para ajudar as milhares de pessoas que moram na Amazônia brasileira”, reiterou o vice-governador.

A deputada federal Jéssica Sales (MDB) disse que o sonho da população do Juruá de ter uma estrada ligando a região com Pucallpa, no Peru, é muito antigo.

“Nós precisamos dessa Interligação, essa estrada é uma necessidade. Claro que ela deve acontecer com todo o cuidado necessário, respeitando todas as leis ambientais. Estamos aqui reunidos, hoje, para debater esse tema, para ouvir quem é contra ou a favor. Os peruanos já demonstram que querem que isso aconteça e o nosso governador Gladson Cameli também. Então os dois países precisam querer. O interesse existe”, enfatizou.

O primeiro secretário do Poder Legislativo, deputado Luiz Gonzaga (PSDB), frisou que a rodovia é um sonho antigo do povo cruzeirense.

“Essa rodovia há anos é defendida, ela é fundamental para o desenvolvimento da nossa região. Nós não temos intenção nenhuma de acabar com a Serra do Divisor, o que estamos querendo é garantir o desenvolvimento da nossa região. E eu fico muito feliz que os trabalhos da construção dessa estrada já estejam acontecendo”, disse.

Luiz Gonzaga defende a construção da rodovia como ferramenta de geração de emprego e renda aos acreanos. Ele afirmou, ainda, que a estrada até o Peru não trará riscos à floresta amazônica como muitos pregam.

”Muitos estados cresceram explorando suas riquezas e fortalecendo o comércio com outras regiões e nem por isso acabaram com suas florestas. Ninguém tem intenção nenhuma de acabar com o parque da Serra do Divisor. Pelo contrário, vamos manter a preservação daquele parque. Só queremos construir a estrada para que o desenvolvimento venha a acontecer”, disse.

Para o prefeito de Cruzeiro do Sul, Zequinha Lima, o tema é polêmico, mas precisa ser discutido.

“Esse tema é polêmico, mas temos que enfrentá-lo. Não podemos virar as costas para ele, devemos falar sobre isso, ouvir as pessoas, a sociedade. Sou a favor da estrada desde que ela seja feita respeitando todas as leis ambientais. Tudo precisa ser muito bem conversado”, disse.

O senador Márcio Bittar, que participou da audiência pública via on-line, disse que a estrada trará prosperidade à região do Juruá. Ele garantiu, ainda, que o governo federal está convencido da importância dessa ligação transnacional.

“Já avançamos muito nessa discussão. O Dnit já fez, inclusive, em Brasília, o pré-projeto dessa obra, esse foi o primeiro passo. O segundo passo é a licitação para o projeto ambiental. É claro que é todo um processo. As comunidades indígenas, por exemplo, serão ouvidas. A fase das audiências públicas ainda vai acontecer. Só depois disso vem a parte de licitação da obra e atração de capital. Ou seja, a parte do governo está sendo feita”, pontuou.

O senador Márcio Bittar afirmou que tem se empenhado para garantir os recursos a serem usados na construção da rodovia binacional.

“Em Lima, no Peru, ouvi: “vocês têm escala (tamanho), mas não têm portos. Todos os países do mundo só prosperam porque usam suas potencialidades e não há saída se não usarmos as nossas”, encerrou Bittar.

Durante a audiência pública foi apresentado um vídeo do governador de Pucallpa, no qual ele manifesta apoio à Interligação Pucallpa/Cruzeiro do Sul.

Em seguida, Francimar Cavalcante, coordenador do grupo de trabalho que estuda a viabilidade da estrada, fez uma explanação através de slides sobre o andamento do projeto e sobre a importância da rodovia.

A deputada Antonia Sales (MDB) disse que a união dos povos de Ucayali e Acre irá garantir a tão sonhada relação comercial.

“Queremos essa integração que há tempos vem sendo debatida, mas nunca sai do papel. Essa tão sonhada estrada ligando as cidades acreanas à Pucallpa vai trazer a integração regional e, consequentemente, o desenvolvimento da nossa região. Nós temos que levantar essa bandeira e ela não tem que ser a nossa bandeira política, dos políticos acreanos, do governo do Acre, tem que ser a bandeira do povo”, defendeu.

Já Luiz Cunha, presidente da Associação Comercial de Cruzeiro do Sul, disse que a instituição defende a construção da estrada.

“Acredito que ninguém aqui é contra a construção de obras de acessos, que aproximam os povos. Dá sim, para se fazer uma rodovia importante como essa sem que se tenha grandes impactos ambientais. Nós não defendemos a destruição da Serra do Divisor, o que queremos é garantir o desenvolvimento da região do Juruá”, enfatizou.

Representando no encontro a procuradora-geral do Estado, Kátia Rejane, o promotor de justiça, Iverson Bueno disse que a estrada é importante, mas que é preciso saber como o processo será feito.

“Estamos falando de uma obra que, com certeza,  terá um grande impacto econômico, ambiental e social. Não vou entrar aqui, no mérito de que sou favorável ou não, isso vai depender de como essa estrada será feita. Agora, se essa obra for de fato autorizada,  o Ministério Público vai acompanhar de perto o processo do começo ao fim”, enfatizou.

Ralf Luiz, do Movimento Social Proponte, frisou que a obra é salutar, mas que o governo do Acre precisa fazer o ‘dever de casa’ primeiro.

“Essa Interligação é importante, mas o debate precisa ser mais bem amadurecido pelos dois países. O governador não fez nem o dever de casa. Rodrigues Alves, por exemplo, está precisando de uma ponte há anos. A nossa BR 364 até hoje não foi concluída. Portanto, discutir sobre a Interligação de Cruzeiro do Sul com Pucallpa é uma discrepância sem fim”, disse.

 Fabiana, do Coletivo Samaúma, também se manifestou contra a construção da estrada Cruzeiro do Sul/Pucallpa.

“A preocupação com essa obra é mundial. O nosso ecossistema está sendo atingido de diversas formas. Nós não queremos a construção dessa estrada, vai destruir o nosso parque, afetará diretamente no clima mundial, no aquecimento global. Nós queremos a nossa floresta em pé”, disse.

Já Cordolino Mota, diretor da Fundação Elias Mansour, defendeu a construção da rodovia ressaltando que a mesma possibilitará o intercâmbio cultural entre a população dos dois países.

“Não vejo a hora  desse intercâmbio cultural acontecer. Troca de conhecimento, de cultura. Claro que as leis ambientais precisam ser respeitadas, porque eu também defendo a preservação da floresta, não sou nenhum irresponsável”, afirmou.

A representante indígena, Maria Valdenice, salientou que os povos indígenas e comunidades tradicionais da região serão diretamente afetados pela obra. “Não queremos essa estrada, ela vai nos afetar diretamente. Vai acabar com a nossa fauna e a nossa flora. Nós não queremos que a nossa floresta sofra mais ainda, não merecemos isso”, enfatizou.

O que os deputados disseram:

Fagner Calegário (Podemos) “Toda obra que traz desenvolvimento é salutar. O que nós precisamos é encontrar um modelo de desenvolvimento sustentável econômico para o nosso Estado. Sugiro, ainda, a criação de  um grupo de trabalho construtivo, composto por instituições da sociedade civil organizada”.

 

Daniel Zen (PT)  “Esse debate não tem que ser como um jogo de futebol que um lado tem ganhar e outro tem que perder. O que temos que fazer é uma reflexão: a construção dessa estrada vai trazer desenvolvimento para quem? Esse é o questionamento a ser feito. Agora, é necessário incluir, no momento, esse debate, assim como algumas instituições e as comunidades impactadas para que a gente possa ampliar e aprofundar o debate. Agora, é claro que toda obra que traz desenvolvimento é muito bem vinda, desde que seja feita com responsabilidade”.

 

Cadmiel Bomfim (PSDB) “Essa estrada nos trará uma série de possibilidades, no mercado, para a venda dos nossos produtos. Onde há gente, há possibilidade. Claro que não podemos destruir  a nossa floresta.  Estamos num mundo globalizado, as pessoas querem desenvolvimento. Nós temos todo o potencial para produzir, mas vamos vender pra quem? Temos que ter uma visão mais ampla”.

 

Maria Antônia (PROS) “Creio que dá para desenvolver e ao mesmo tempo preservar. Eu acredito nisso. Sou totalmente a favor da estrada desde que seja feita com responsabilidade, preservando também as nossas riquezas”.

Texto: Mircléia Magalhães/Agência Aleac

Revisão: Suzame Freitas

Fotos: João Simão e Ismael Medeiros