Assembleia Legislativa do Estado do Acre

Edvaldo Magalhães reacende debate sobre Operação Ptolomeu e cita vínculo entre governo e advogado de Dilma Rousseff

 

Edvaldo Magalhães denuncia relações entre o governo estadual, contratação de advogados e o processo da Operação Ptolomeu: “Essa casa paralisou sessões”, disse, ao relembrar protestos e investigações.



Na sessão desta quarta-feira (29), da Assembleia Legislativa do Estado do Acre, o deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB) relembrou episódios que marcaram o governo estadual e o trabalho legislativo em anos anteriores e colocando em xeque a participação do governo na investigação da Operação Ptolomeu.

“É impossível, nesta sessão, não se tratar do tema da Ptolomeu. Essa casa paralisou uma sessão há alguns anos atrás”, disse o parlamentar, ao trazer à tona fatos que, segundo ele, ilustram a gravidade da crise institucional.

O oposicionista lembrou que, no dia 16 de dezembro (legislatura passada), a Aleac “iria finalizar as votações” do orçamento, quando um integrante do cadastro de reserva da Polícia Civil protestou em frente ao Palácio Rio Branco, chegando a acorrentar-se. A seguir, a Polícia Federal deflagrou a primeira fase da Operação Ptolomeu:“Já faz algum tempo” e foi instaurado um conflito que se transformou em “Deus nos acuda”, segundo o deputado. Ele disse ter sido mobilizado por telefonema madrugada adentro, assustado com as autoridades no Palácio. Após isso, foram realizadas reuniões e debates emergenciais no Legislativo.

O deputado apontou que, apesar da repercussão, o debate público depois “foi abafado, literalmente abafado”. Ele narrou que, em discurso numa sessão solene com a presença do governador, fez apenas duas linhas sobre Ptolomeu: “quebrou o regimento interno”, disse, o governador, contrapondo-sua fala. E complementou que, na sequência, vários líderes de governo o questionaram: “Todos, absolutamente todos”.

Magalhães criticou ainda que “o governador não pode reclamar daqueles que são oposição, porque essa denúncia não foi feita pela oposição. “A denúncia foi feita por um aliado dele que foi pego numa escuta telefônica”, disse.

O parlamentar fez ainda menção direta à empresa Murano Construções Ltda. Ele afirmou: “Eu fui o primeiro a questionar os contratos da Murano nesta casa. E o que foi a Murano? Foi uma carona que o governo pegou de um contrato para fazer a reforma do Ifac, de uma região ali em torno de Brasília. Desse contrato fizeram ramal, fizeram divulgação do governo, sabe aqueles contratos de mídia? Pois é, a Murano pagou. O irmão do governador virou dono dessa empresa depois desse contrato”, afirmou. 

Para concluir sua fala, Edvaldo Magalhães afirmou que “o que vai ser julgado no dia 19 é este caso. Torço para que o governador seja inocentado. E se não for que responda perante a Justiça pelos erros que o seu governo cometeu. Ele já teve a oportunidade de se defender.”

Em complemento, o deputado trouxe nova acusação: “Como não pode reclamar? O governador acabou de contratar sabe quem para ser o advogado dele na próxima fase, depois desse julgamento? José Eduardo Cardoso. Um advogado renomado do PT. Foi ministro da Justiça no governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Pediu o voto do Gladson contra o impeachment. E o Gladson votou a favor do impeachment. O governador contratou José Eduardo para, certamente, fazer um recurso no Supremo etc. Essas são as voltas que o minei dar”, complementou. 

A Operação Ptolomeu, que já registrou várias fases no Estado do Acre, investiga um esquema de fraude à licitação, desvio de recursos públicos, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.  

Em 2021, a fase II da operação apontou tentativa de obstrução à investigação, com servidores públicos implicados e mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal.  

As investigações da empresa Murano Construções resultaram em denúncia contra o governador Gladson Cameli e outros por contrato de 2019 no valor de R$ 24,3 milhões firmado via adesão à ata de registro de preços, com indícios de sobrepreço e subcontratação de empresa ligada a seu irmão.  

A PGR aponta que valores de propina podem ter ultrapassado R$ 6,1 milhões.  

Segundo a CGU, a terceira fase da investigação (Operação Ptolomeu III) mobilizou 89 mandados de busca e apreensão, 31 afastamentos de função pública, e bloqueio de bens em torno de R$ 119 milhões.  

 

Texto: Mircléia Magalhães/Agência Aleac

Foto: Sérgio Vale